6.12.06

Visita ao Museu de Arte Antiga


O Museu de Arte Antiga foi o destino de mais um passeio de domingo em Lisboa.

E Lisboa estava particularmente bonita, tinha chovido e o sol, timidamente, aparecia por entre os prédios. Aqui e ali as gotas de água suspensas dos galhos das árvores e dos beirais mais pareciam pérolas, que brilhavam, reflectindo as cores do arco-íris. Lisboa ganha cor e formas e as suas ruas quase desertas conferem-lhe uma tranquilidade que nos seduz.

Não éramos muitos, mas éramos com certeza os interessados. O nosso colega Carlos Franco foi o guia imprescindível. Um pouco da História deste país, é-nos descrita na sua crueza e realismo.

Começámos por observar “A Cadeira”, (1465), um belo exemplar do gótico, com o fundo decorado a “linho premeado” e o espaldar minuciosamente trabalhado. É uma das peças preferidas do guia. Ao observar esta peça, lembrei-me imediatamente duma famosa e bendita Cadeira que, ao ter partido uma das suas pernas, contribuiu na sua simplicidade para o início dum novo rumo deste pais. Depois, como disse o guia, foi compreender o ambiente através dos objectos, o desenrolar das nossas grandezas e misérias.

Colecção de marfins e móveis com motivos europeus são um testemunho das relações entre Portugal e colónias.

Contadores de diversos estilos e magníficos desenhos, com embutidos em ricas e diferentes matérias.

Tesouros eclesiásticos onde sobressai a Custódia de Belém, autoria de Gil Vicente.

As pratas da casa real, as tapeçarias flamengas e os tapetes de Arraiolos.

Móveis e objectos barrocos e neoclássicos.

Uma sala do século XVIII, decorada com espelhos na parede, moda que vinha de França, e com um enorme lustre ao centro, coisa rara para a época. E era aqui neste espaço que os nobres deste país ocupavam o seu tempo a jogar ao lencinho ou às cartas tudo actividades muito nobres, como se vê.

Num espaço recriado, encontrámos um estrado muito perto do chão, tapado com um tapete onde se podem ver dois móveis pequenos e rasteiros. A mulher ocupava e movimentava-se em espaços semelhantes. Era a este nível, ao nível do chão que a mulher era considerada e vivia. No entanto, diz-se que os estrangeiros ficavam admirados com o que observavam na rua. As mulheres fumavam e jogavam desalmadamente. Até a Condessa de Atouguia ia à igreja rezar e pedir que Deus lhe retirasse tal vício, coisas.

Até ao século XVIII, tomar banho era um acontecimento. Três vezes na vida passavam por esta experiência, no nascimento, no casamento e pouco antes de morrer eram os grandes momentos higiénicos deste povo. No espaço de tempo entre uma data e outra, lavava-se a cara, as mãos e alguns nobres também os pés. E, lá estava ela, a banheira, que começa no século XVIII a adquirir uma certa importânciazinha.

E foi através dos objectos que o nosso percurso se desenrolou. Tudo tão longe e tão perto. Séculos de história revisitados num domingo, uma história onde o mar foi caminho, onde o rio, mesmo ali ao lado, foi chegada e partida. E que bonito estava o Tejo neste dia.

Madalena Garcia