1.6.06

Não é possível colher o que não se semeia...

Porque o momento é de crise e debate da situação da educação, não posso deixar de transcrever um artigo assinado por José Matias Alves no jornal "Correio da Educação" da editora ASA. Por sua vez, este artigo é a referência a um discurso do Professor António Nóvoa.
Passo a citar:
Em notável discurso na Assembleia da República, o novel reitor da Universidade de Lisboa afirmou, em termos preambulares, que o mal que mina a educação e a sociedade portuguesas tem a ver com a desvalorização da cultura escolar que, por definição, exige trabalho, esforço, cuidado, persistência e dedicação.
Depois, com o rigor do geómetra e a paixão do poeta, definiu quatro axiomas maiores para o debate:

i) à escola o que é da escola e à sociedade o que é da sociedade. A escola não se pode deixar esmagar pelo excesso de mandatos. E os políticos e a sociedade têm de recusar meter lá tudo e depois culpar quem lá está.

ii) A escola tem de promover o sucesso de todos e cada um. Para isso, tem de valorizar o trabalho escolar, recusar o papel de guarda e de ama-seca; satisfazer os interesses dos alunos mas implicá-los esforçadamente na aquisição e desenvolvimento de regras, conteúdos e competências. Pois não é possível jogar xadrez sem saber as regras; não é possível jogar os complexos jogos de linguagem, comunicação e interacção sem se saber os modos de utilização dos códigos.. .

iii) A escola é um bem público que importa preservar e promover, sendo desejável que no espaço público haja uma maior liberdade de escolha e uma maior diversidade de oferta, revalorizando as componentes tecnológicas e profissionais.

iv) Os professores têm de ser tratados (e olharem-se a si mesmos) como profissionais qualificados, sendo de dispensar os modos cegos e centralistas de os comandar. E a este propósito afirmou: o futuro é construido pelos bons professores e não pelos aparelhos burocráticos, programas toda a parafernália de normas...

Chega então um novo tempo de debate. Mas, como também lembrou o primeiro-ministro, o debate não deve dispensar a acção. E o problema da mudança não é apenas da concepção, mas da sua execução. Acompanharemos com dedicação e exigência este tempo. Tudo faremos para que não seja em vão. E não o será se, em cada escola, na nossa acção concreta, procurarmos os caminhos do que é essencial, valorizarmos o esforço individual e colectivo, conferirmos sentido e relevância ao que queremos que as nossas crianças e jovens aprendam.
JMA

Ainda a propósito poderão consultar outras opiniões no blog http://blogdosindocentes.blogspot.com/